Na quarta parte da nossa série, vamos as músicas
que marcaram época. A Ditadura em notas musicais. As composições de artistas
que utilizaram seus talentos para confrontar o Regime, e protestar contra a
falta de liberdade, contra o autoritarismo, e contra a tortura de se viver em
um país de mentiras. A lista de 8 músicas protestando contra a Ditadura.
Capa do livro de Manu Pinheiro |
Durante a Ditadura Militar, as manifestações
contra o regime era proibido. Portanto, protestar contra o que se vivia era
algo quase suicídio, mas mesmo assim muitos, mas muitos mesmo, não se amedrontaram
e foram para cima. Além das muitas
manifestações de rua, a música foi utilizado como modo de protesto. Deve-se
destacar as composições de Chico Buarque e Caetano que inclusive sofreram
perseguições por tais críticas. Porém outros compositores também merecem estar
nesta lista. Nas músicas, as mensagens nem sempre eram claras, elas vinham
disfarçadas nos versos, na tentativa de driblar a censura.
Pela internet encontramos muitas dessas
curiosidades, sobre como esses compositores tiveram suas músicas liberadas pela
censura. Vale a pena procurar pela internet e ler. Pesquisando sobre estas
músicas, uma seleção dessas músicas foi realizada, com algumas modificações se
comparada a algumas listas pela rede.
Vamos a uma lista de 8 músicas que merecem nossa atenção e que retratam tudo o que me referi acima. Ouça, assista os vídeos, e analise.
1 –
Cálice
"Cálice" é
uma canção escrita e originalmente interpretada pelos cantores brasileiros Chico Buarque e Gilberto Gil em 1973. Na canção percebe-se
um elaborado jogo de palavras para despistar a censura da ditadura militar. A
palavra-título, por exemplo, é cantado pelo coral que acompanha o cantor de
forma a soar como um raivoso "Cale-se!". A canção teve sua execução
proibida durante anos no Brasil. Na gravação, as estrofes de Gil, que estava
trocando a PolyGram pela WEA, foram interpretadas por Milton
Nascimento, fazendo coro com o MPB4, em dramático arranjo
de Magro.
2 –
O Bêbado e o Equilibrista
Um dos maiores clássicos da parceria João Bosco & Aldir Blanc
é “O Bêbado e a Equilibrista”. Mais do que um clássico, essa música foi
um hino. Um hino do Brasil na época da ditadura e da anistia. “Com ela, a
música popular soube encarnar como absoluta perfeição o momento histórico”, já
disse Geraldo Carneiro. “Em uma certa hora aquela música cai na mão da
Elis Regina e ela se apaixona. Quando ela grava está completamente possuída por
aquela música, já não nos pertence”, já disse João Bosco. Lançada em
1978, a música tem forte teor político. Mas surgiu, na verdade, como um desejo
de João Bosco homenagear Charles Chaplin. Chaplin tinha morrido no Natal de
1977. O momento
político do Brasil é lembrado várias vezes, em metáforas ou em menções como
“Choram Marias e Clarisses” . As Marias e Clarices eram as viúvas dos presos
políticos, representadas na letra pela Maria, mulher de Manuel Fiel Filho, e
pela Clarisse, de Vladimir Herzog: os dois morreram nos porões do DOI-CODI.
3 –
Caminhando (Pra não dizer que não falei das flores)
Usando
seu talento poético e musical, Vandré ousou driblar a censura implacável que os
militares reservavam a toda manifestação cultural que fosse de encontro do
regime estabelecido, para lançar no ar uma mensagem musical, alertado o povo
brasileiro para a situação reinante, e principalmente para a necessidade desse
povo tomar para si as rédeas da história. Só assim seria possível tirar o país
das trevas social e política em que o mesmo fora colocado, por um regime
militar reconhecidamente excludente. “PARA NÃO DIZER QUE NÃO FALEI DAS FLORES”
foi apresentada ao público no Festival da Canção. Premiada pelo júri com a
segunda colocação, mas a canção de Vandré era forte o suficiente, e não apenas
resistiu à incompreensão dos jurados e da ditadura militar – que proibiu sua
execução por anos -, mas acabou transformando-se no hino oficial de toda uma
geração politicamente consciente e devidamente engajada em um dos movimentos
sociais.
4 –
Apesar de você
É uma canção escrita e originalmente interpretada pelo cantor e compositor brasileiro Chico Buarque em 1970, lançada inicialmente como compacto simples naquele mesmo ano. A canção, por lidar implicitamente
com a falta de liberdades durante a ditadura militar, foi proibida de ser executada pelas rádios
brasileiras pelo governo do general Emílio Garrastazu Médici. No entanto, seria liberada oito anos mais tarde,
durante o final do governo de Ernesto Geisel. Além disso, a cantora Clara Nunes, que regravou a canção sem saber de seu tema
implícito, viu-se obrigada a se apresentar nas Olimpíadas do Exército de 1971
para compensar o mal-entendido. Em fevereiro de 1971, o jornalista Sebastião Nery, do Tribuna da Imprensa, publicou uma nota
em sua coluna dizendo que seu filho e os colegas dele cantavam "Apesar de
Você" como se estivessem cantando o Hino Nacional. Como resultado, Nery foi chamado para
depor na polícia. Semanas depois, a execução pública da
canção foi vetada pelo governo, que finalmente compreendeu sua mensagem. Os oficiais do regime invadiram a
sede da Philips e destruíram as cópias restantes do disco. O censor que aprovou a canção também
foi punido. Os oficiais do governo, no entanto,
não destruíram a matriz, o que possibilitou a reedição da
versão original da gravação. Num interrogatório, Buarque foi
indagado sobre quem era o "você" da letra da canção. "É uma mulher muito mandona,
muito autoritária", teria respondido o cantor.
5 –
É proibido proibir
Lançada em 1968, É Proibido Proibir é a canção de protesto mais conhecida feita por
Caetano Veloso, um dos maiores clássicos da MPB. Feita durante o período
mais conturbado da Ditadura Militar, no chamado Anos de Chumbo (1968-1975),
essa música crítica a dureza dos órgãos de repressão, usando um dos lemas da
contracultura (Proibido Proibir), misturou o rock psicodélico com a poesia
naturalista brasileira e performances hippies, criando uma música inteligente e
muito amalucada, causou a ira da censura e do público, o qual vaiou imensamente
durante sua apresentação acompanhado pela banda de rock Os Mutantes no III
Festival da Canção, o qual Caetano Veloso proferiu um discurso histórico
dizendo que a juventude não estava entendo a mensagem da música.
6 –
Vai Passar
A música ‘Vai passar’, de Chico Buarque de Holanda,
foi lançada em 1984, fim da Ditadura Militar, e tal letra geralmente é
associada a este período. Nós partimos da ideia de que só metaforicamente a
letra se refere a Ditadura Militar, pois parece-nos claro tratar do surgimento
do carnaval nos moldes que ele é mais conhecido hoje em nosso senso comum: o
carnaval carioca, organizado por escolas que desenvolvem sambas-enredos.
7 –
Alegria, Alegria
"Alegria, Alegria" é uma canção da autoria de Caetano Veloso que foi um dos marcos iniciais do movimento tropicalista em 1967. Em cada
verso, revelações da opressão ao cidadão em todas as esferas sociais. A letra
critica o abuso do poder e da violência, as más condições do contexto
educacional e cultural estabelecido pelos militares, aos quais interessava
formar brasileiros alienados.
8 –
Roda Viva
Essa
letra faz parte da famosíssima peça de mesmo nome, escrita em 1967 e que, um
ano depois, sob a direção de José Celso Martinez Corrêa, recebeu montagem à
altura, no teatro Oficina. Chico Buarque, que até então era "a única
unanimidade brasileira", nas palavras de Millôr Fernandes, chocou parte de
seu público com a radicalidade crítica e o tom francamente agressivo da peça. Mas
vamos à letra Roda-viva: ela tem um chão histórico específico, ou seja, os
obscuros anos da ditadura. É desse tempo que ela data e é o que esse tempo
representou para a experiência brasileira que ela aborda e cifra. Eu falei em
"cifra"? Sim, a palavra cifra tem, além da acepção comercial
que conhecemos, o sentido de explicação de escrita hermética, enigmática, e,
por extensão, passa a significar essa própria escrita. Decifrar é
justamente tirar a cifra, tornar o texto claro, interpretá-lo. Como dissemos, a
composição de Chico se originou em meio ao turbilhão da instauração da ditadura
militar no Brasil. Ditadura que representava, para a cultura, simplesmente o
fim da liberdade de expressão. Um meio muito utilizado na época (e, de um modo
geral, em períodos não democráticos, no Brasil e em outros países) para driblar
a censura foi a metáfora, o despistamento,
a linguagem figurada, a cifra. Alguns escritores e jornalistas falavam
aparentemente de flores e rouxinóis, quando estavam se referindo à situação
político-social brasileira.
Acesse também as outras partes da nossa série "A Longa noite dos generais"
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