No dia 1º de abril de 1964, o Brasil começa a viver
uma página triste da sua história. O Golpe Militar foi nada mais, nada menos,
do que um assassinato em massa. Morreram pessoas, a democracia e a esperança,
enquanto militares enriqueciam, e a sociedade empobrecia. Os anos se passam, e
os arquivos continuam fechados, e assassinos não são julgados. Somos um país de
esquecimentos, mas quando esquecemos de que isso aconteceu, esquecemos de nós
mesmos.
A Ditadura Militar foi marcada pela censura a imprensa, torturas e assassinatos. |
No aniversário do dia mais triste da nossa
história, eu fico pensando que somos o resultado de nossas ações, tanto
individualmente, como coletivamente. Há exatos 49 anos, ainda de madrugada, se
iniciou uma conspiração, para retirar o presidente eleito e instaurar um regime
autoritário e assassino, onde a democracia e a sociedade foram massacradas
pelos interesses financeiros, de militares, americanos e de uma sociedade
burguesa servil, que até hoje toma conta de pontos importantíssimos do nosso
país.
Presidente João Goulart discursando no Comício na Central do Brasil. |
Para entender o golpe é necessário voltar bem
mais do que um ano, mas neste momento, voltarei poucos dias do mesmo mês de
1964. No dia 13 de março de 64, no comício da Central do Brasil, 200 mil
pessoas estiveram no local. No evento, João Goulart anuncia medidas sociais,
que como sempre incomodam uma elite acomodada a ganhar a custa do povo. Entre seus
anúncios estavam a nacionalização das refinarias de petróleo privadas, e a
desapropriação de terras para a reforma agrária, situadas as margens das
rodovias federais. Nenhuma dessas medidas eram prejudiciais ao povo, muito pelo
contrário.
Estive no centro do Rio de Janeiro na semana
passada, e passando pela Central do Brasil, lembrei-me de uma entrevista que
tinha lido a alguns anos atrás, que ressaltava as declarações de pessoas que
estiveram na Central do Brasil naquela época. Em uma das declarações um senhor
falava sobre como as pessoas foram andando em direção a Central do Brasil, com
a esperança no olhar. Enquanto o ônibus passava pelo em torno da Central, eu
imaginava essas pessoas em direção ao comício, e imaginava ainda mais, a
esperança no olhar destes personagens históricos. O olhar do pobre, que pela
primeira vez ouvia algo, que pouco se sabia o significado, mas parecia ser
promissor. Palavras como moradia e desenvolvimento de uma nação, podem e devem
fazer parte da realidade de uma sociedade e não do seu imaginário.
Na Marcha da Família com Deus pela Liberdade as faixas pediam democracia, mas a passeata liderada por conservadores, foi de apoio a uma intervenção militar, que ao acontecer, não trouxe democracia. |
Logo indaguei o dia 19 de março de 1964, com a “Marcha da Família com
Deus pela Liberdade”, realizada em São Paulo, como resposta ao comício no Rio
de Janeiro. Fiquei imaginando como as cartas estavam na mesa, e as respostas
imediatas. Os próximos dias seriam insuportáveis. A pressão vinha dos dois
lados, e com certeza pesava contra Jango, uma certa inabilidade em alguns
pontos, assim como ouvir demais as pessoas erradas. Os militares estavam se
articulando, e assim se comportam. Em imediata resposta ao protesto da classe média, os marinheiros
da Armada, liderados pelo Cabo Anselmo, organizados ao redor da Associação de
Marinheiros e Fuzileiros Navais do Brasil, no dia 25 de março, alvoroçaram-se
no Rio de Janeiro. Durante o chamado Motim da Semana Santa, os 1200 marujos
rebeldes concentrados no Palácio do Aço, sede do sindicato dos metalúrgicos,
receberam ainda a adesão de um destacamento de 26 fuzileiros navais que se
dirigira para o local para prendê-los. João Goulart não demorou igualmente em anistiá-los.
Dali em diante, pelo Presidente ter-se posicionado novamente a favor dos
estamentos subalternos, ferindo assim os princípios da hierarquia militar,
praticamente mais ninguém na alta chefia militar lhe deu sustentação.
No
dia 30 de março, Jango comparece a uma confraternização no Automóvel Clube do
Rio de janeiro, onde recebe as homenagens dos subtenentes e dos sargentos pela
defesa que fizeram aos interesses deles. Neste mesmo encontro, o Cabo Anselmo,
líder dos revoltosos, discursou. Foi a última aparição pública de João Goulart.
Assistindo tudo pela TV em Juiz de Fora, o General Mourão Filho, que já tinha
aceitado, desde o dia 28 ser o comandante das tropas insurgentes, deu ordem
para seus regimentos seguirem com o planejado.
Na
madrugada do dia 1º o plano já estava em curso em sua execução, em uma
madrugada longa, que duraria até 1985. A intervenção militar foi saudada por
muitos setores, como: proprietários rurais, empresários, governadores de alguns
estados, alguns setores da Igreja Católica e pela classe média. Ou seja,
saudada pela elite, que não via nas ações de Jango, o futuro da manutenção de
suas riquezas.
Em
detrimento do povo, o Golpe foi realizado, e com ele tudo de ruim que se
poderia acontecer em um país. O Governo Militar matou, violentou, torturou e dizimou.
Mentiu que vivíamos um espetáculo de crescimento, enquanto a dívida aumentava
cada dia mais e paga sempre com a esperança do povo. As conseqüências deste
golpe foram profundas, não só para a nossa história, mas também para o nosso
povo. Existe hoje a deturpação do ativismo, a invenção de uma democracia, que
na verdade é comandada pelo dinheiro, e não pela vontade do povo, e uma mídia
circense, que vive de entreter para alienar. Somos pacíficos politicamente e
sem educação, o que nos torna incapazes de transformarmos a nossa sociedade.
Temos heranças malditas de muitas épocas, mas nos massacra lembrar das mortes
que até hoje assombram a nossa história, e que absurdamente nos são negados o
direito aos seus arquivos.
Para
terminar, e continuarei a postar por vários dias sobre o Golpe Militar, ainda
esta semana, se não dá para voltar no tempo, pelo menos que aprendamos algo com
isso. Hoje não temos militares tentando o poder, mas temos outros usurpadores,
que podem tomar o poder, com o nosso próprio voto. Precisamos votar melhor, e
buscar mais educação.
A
Ditadura Militar é um capítulo longo e triste da nossa história, que precisa
ter seus arquivos abertos, e militares julgados. Não pode passar como algo que
praticamente não aconteceu. Temos hoje representantes deste regime no poder de
muitas coisas. Na presidência da CBF está José Maria Marin, que era deputado
estadual pela ARENA, e que pode ser considerado um dos incentivadores do assassinato
de Valdimir Herzog, história essa que será contada em uma postagem próxima.
Precisamos
repensar nossa história. E pensando nisso, estarei esta semana até a sexta
feira, falando sobre a Ditadura Militar em posts diários, com o objetivo da
reflexão e análise deste momento triste esquecido por muitos.
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