A “Dama de Ferro” morreu, mas o que deixou? Para
os trabalhadores do mundo nada, apenas a idéia de que esmagar a massa trabalhadora
é um bom exemplo para se fortalecer a economia de um país. Exemplo seguido por
muitos. Para os capitalistas morreu uma heroína, para os argentinos morreu o
capeta, e para os trabalhadores, não vai deixar saudade alguma.
A história sempre nos reserva sempre o fim. A
morte é sempre mais do que este fim, pode ser o início, e até nos fazer
refletir. Na segunda feira, quando chegou a notícia da morte de Margaret
Thatcher, a “Dama de Ferro”, falei para mim mesmo que não citaria nada. Horas
depois estava no facebook escrevendo algo sobre o assunto. Como amante da história,
não consigo me furtar a ela, e nem as minhas inclinações. Pode ser algum mal
isso, mas sou sempre acometido por ele.
Repressão policial durante a greve dos mineiros - 1984 |
Não concordo que Thatcher era uma figura
controversa, muito menos polêmica. Ela sempre foi uma direitista, e não há
polêmica nisso, faz parte da nossa já habitual espécie humana, crescer em
detrimento de muitos. Margaret foi uma política muito importante para a
Inglaterra, e inspiradoras para alguns no mundo. Sua política neo-liberal
norteou pensamentos e administrações públicas em muitos lugares no planeta. A
ex-primeira ministra inglesa sempre usou a austeridade como ponto forte de suas
ações, e através delas tomou todas as ações contra o social, com a desculpa de
salvar a economia inglesa. Então a economia é mais importante que o social?
Para os capitalistas sim. Para reverter a crise que assolava a Inglaterra,
Margaret implementou um programa de privatizações, e corte de serviços sociais,
além de abolir o salário mínimo. Em 1982 elaborou um plano, que depois foi
engavetado, mas que previa o desmantelamento de instituições do Estado, como o
serviço nacional de saúde, e a educação gratuita. Em 1984 enfrentou com mãos de
ferro as greves, em especial a dos mineiros. Thatcher tinha o objetivo simples
de acabar com os sindicatos, e acabar com as minas era o avanço deste processo,
já que os mineiros era uma referência sindical. E ela conseguiu. Em seus anos
de governo Thatcher conseguiu desempregar mais de 3 milhões de pessoas. Com a
derrota dos mineiros e do movimento sindical estava escancarada de vez as
portas da Inglaterra para o movimento neo-liberal de Margaret.
Ainda vale lembrar que no governo de Thatcher
houve o crescimento do hooliganismo, os vândalos do futebol. As repressões de
Thatcher aos movimentos trabalhistas e aos pobres, aliado a sua omissão,
aumentou o movimento e morte foram o resultado. A baronesa, era contra as
sanções impostas pelo mundo a África do Sul, durante o apartheid, o que nos
leva a crer a sua simpatia por tal movimento segregatório.
Ainda como Ministra da Educação da Inglaterra
de 1970 a 1974, Margaret chegou a cortar o fornecimento de leite dos colégios
públicos, além de proporcionar outros cortes na educação. Não é por pouca coisa
que Thatcher é acusada de alienação. Na segunda feira, dia da sua morte, foi deixado na porta de sua casa, uma garrafa de leite em forma de protesto.
96 pessoas morreram no estádio Hillsborough. Investigações manipuladas por Thatcher. |
A
“Dama de Ferro”, apelido dado pelo ministro e defesa soviético de 1976 Krasnaya
Zvezda, foi uma mulher firme em suas convicções, disso não podemos
negar. Suas idéias não tinham o objetivo de agradar ao trabalhador. O interesse
era a elite inglesa, e isso foi alcançado. Não se poderia esperar algo
diferente de alguém de uma família política conservadora inglesa. Mas vale
dizer também que não é a toa que uma boa parte da população britânica festejou
a sua morte. A torcida do Liverpool cantava até hoje em seus jogos um cântico
que tem como título “Quando Thatcher morrer”. Certamente essa música se
encerrará, talvez, não sem antes ser cantada pela última vez no próximo jogo do
Liverpool que será no dia 13 de abril, quase 24 anos depois da morte de seus 96
torcedores.
Na
minha opinião, Thatcher não deixa saudades. Não me impressiona em nada. Isso
também não quer dizer que saio por aí desejando que as pessoas morram, claro
que não, mas não aceito ouvir uma mídia ignorante falar do legado de Margaret.
O legado foi a destruição de vidas, e desemprego em massa, para fazer o capital
se reinventar. E prefiro fazer uma referência ao post no facebook de um grande
amigo meu, Gabriel Vitorino, que disse mais ou menos assim: “Que a história continue a nos servir os
defuntos de nossos senhores.”, já que somos como muito bem lembrou Gabriel, “Nós
trabalhadores, vermes do capitalismo”.
Texto oportuno e útil. Parabéns.
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