terça-feira, 2 de julho de 2013

A GREVE QUE NÃO ACONTECEU

A Greve do dia 1º de Julho não aconteceu. Mesmos sendo convocada pelas redes sociais, assim como outros movimentos, a greve não foi realizada. A ausência dos sindicatos foi sentida nas ruas. A já habitual covardia, desorganização e falta de representatividade estagnou os sindicatos em meio a um momento histórico do nosso país. Precisamos mudar esse país, e precisamos incluir nesta mudança as bases.

           
Depois de alguns dias sem computador, volto hoje a postar no blog, com algumas impressões formadas. Muita coisa aconteceu neste final de semana, e as manipulações não mudaram. As pessoas por si só continuam em um alvoroço e sem entender o que realmente devem e querem fazer. Mas a notícia que deixava todo mundo em alerta, ainda no domingo, era a possível greve na segunda. Os colégios, ainda na sexta feira, tinham mandado recados aos pais, que uma possível greve deflagrada poderia fazer com que as aulas não acontecessem. Muitos boatos ocorreram ao mesmo tempo. Em Duque de Caxias, pessoas espalhavam a notícia, de que moradores de algumas favelas próximas, caso houvesse uma grave, iriam para as ruas e queimariam tudo que encontrassem. Outras já afirmavam que os ônibus não iriam paras ruas na segunda de manhã.

Pois bem, a segunda chegou, mas a greve não. Ainda no olho do furacão vivido no mês passado, a idéia da greve dia 1º Julho ganhava força, mas a própria movimentação foi se enfraquecendo com o tempo. A greve fora convocada pelas redes sociais, assim como quase tudo no movimento vivido no mês de junho. Mas essa não emplacou. Na segunda pela manhã. No colégio onde trabalho, os alunos eram poucos e os ônibus eram muitos. Com a força dos boatos acima, e o medo de uma classe conservadora, as aulas foram comprometidas, e os diversos discursos de que essa movimentação toda está atrapalhando, começou a ganhar força.

Mas já era fato que a greve não funcionaria. Há algum tempo atrás, meu amigo, Gabriel Sobreira, já tinha me dito da importância do envolvimento de outras organizações nos movimentos. E com o tempo, para quem gosta de analisar as conjunturas, se observava que os sindicatos não se mexiam. O caráter informal que ganhava o movimento, não é a explicação para a ausência dos sindicatos. Ouvi de algumas pessoas que os sindicatos não poderiam entrar nas manifestações pois as mesmas não tinham identificação partidária. Grande besteira. A ausência dos sindicatos, vem pelo próprio caráter que eles se apresentam. São falhos e sem representatividade. Estão falhos em todos os sentidos e tomados por aproveitadores que visam uma transformação individual de seus membros. São falhos a apresentar propostas e adoram discutir o “sexo dos anjos”, com a clara intenção de nada dar certo.

São todos assim? Não. Mas a minoria não entra em estatística. A ausência dos sindicatos, não todos, mas a grande maioria, demostra o nível de comprometimento dos mesmos. Se a mesma falta for justificado pelo apartidarismo, aí a coisa fica ainda pior. A greve não deu certo, porque também na verdade ela não foi iniciada na sua base, o trabalhador. Ele até quer, mas não vê na sua representação de base estrutura, ou simplesmente, vontade política disso acontecer. A outra pergunta, que todos se fazem, quanto se fala dos sindicatos é: Estão comprados? Se estão, por quem? São perguntas com respostas, mas que não tenho a intenção de citar aqui. Acho que cada um precisa fazer sua análise. O importante é que os passos que teremos que dar agora dependem dos rumos que queremos seguir. Não acho que a discussão se encontra em um referendo ou um plebiscito, mas em algo maior.

Na minha opinião precisamos continuar rumando a um processo de mudança, mas com a responsabilidade de saber o que se quer, para acabar não criando mais monstros para combatermos.


Um comentário:

  1. Você tocou numa questão séria: a falta de representatividade dos sindicatos, a falta de mobilizações, sindicatos que parecem fantasmas. Isso existe muito por aí, mas também existem sindicatos bastante representativos e mobilizados, como os metalúrgicos do ABC. Acredito piamente que a posição de defesa do governo federal pelos sindicatos combativos é bastante representativo das bases. A queda alardeada de popularidade da Dilma é fraca, pouco significativa (migração do "ótimo ou bom" para o "regular") e de fôlego pequeno (não se sustenta até 2014).

    Mas o que eu quero frisar aqui, e que é muito importante, é que o problema do sindicatos hoje não é de fundo moral e ético. Aliás, não se trata de um problema dos sindicatos, mas do sindicalismo. Temos um sindicalismo que não está adequado à capacidade organizativa dos trabalhadores. Na década de 70 e antes, ainda existiam muitas vilas operárias em torno das fábricas no Brasil. Eram nesses espaços de sociabilidade construídos pelos próprios trabalhadores que eles vivam, amavam, moravam e se organizavam. Os sindicatos eram muito mais a expressão de uma comunidade operária do que de um grupo de funcionários de uma empresa, embora a comunidade operária se desse em torno da empresa. Hoje os trabalhadores moram longe do trabalho e encontram seus colegas apenas no loca de trabalho. Não se constrói sindicato no local de trabalho, mas nos espaços em torno, que atravessam o local de trabalho. É por isso que as comunidades religiosas são tão fortes politicamente, porque elas oferecem na maioria das vezes o único espaço de sociabilidade das pessoas. Construir um sindicalismo novo hoje significa encarar o desafio de construir novos espaçoes e inventar novas fórmulas. Se ficarmos na denúncia da ética, além de errar o alvo do problema, contribuímos com aqueles que consideram ilegítimo qualquer forma de associação que não seja a família ou a igreja.

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