domingo, 21 de abril de 2013

O BRASIL E O 21 DE ABRIL - OS MISTÉRIOS DE UMA DATA SEM SENTIDO.


O dia 21 de abril é cercado de mistérios. Isso se tratando de Brasil então nem se fala. Tiradentes, a morte de Tancredo, e até o meu pai fazem parte deste mistério.

A minha comemoração a cerca do dia 21 de abril de 1960 é outra. Meu pai faz aniversário neste dia, mas não é por causa dele que existe o feriado. Não seria a imagem daquele menino pobre que nasce no início da conturbada década de 60, na periferia da cidade do Rio, que seria usada como imagem para uma mentira brasileira.
Como todos sabem, ou deveriam saber, o feriado nacional de 21 de abril é uma homenagem ao “mártir” da Inconfidência Mineira, Tiradentes. O que é altamente contestável em todas as suas relações. Seria Tiradentes um “mártir”? Seria justa a suma homenagem? Com certeza não. Apesar de contestável, a morte de Tiradentes ocorreu em 21 de abril de 1792. Apontado como líder da Inconfidência Mineira, ele foi sentenciado a morte por enforcamento, e seu corpo esquartejado. O local da morte de Tiradentes, o Campo da Lampadosa, recebe hoje o nome de Praça Tiradentes. Até aí tudo bem, menos para Tiradentes, a farsa que quero retratar não se inicia neste ponto. Os anos se passam, e o Brasil se torna “independente”, o café passa a ser o meio de sustento do Brasil, os escravos são libertos, e a República é proclamada. Neste ponto é que temos um problema nacional. A “Proclamação da República” nada mais era do que um Golpe Militar. A ausência da participação popular fragilizava o novo governo, e precisa se consolidar. Por isso o resgate da imagem de Tiradentes, que seria associada a imagem da libertação do Brasil da monarquia descendente de Portugal. O problema é que, Tiradentes e sua Inconfidência nunca trataram, nem se quer de aventar a hipótese de libertar o Brasil de Portugal em 1792. A proposta era simplesmente eliminar a dominação portuguesa das Minas Gerais e estabelecer ali um país livre. A Inconfidência Mineira também não era composta por camadas populares. Entre os insatisfeitos que conspiraram estavam, proprietários rurais, intelectuais, clérigos e militares. Mas mesmo assim Tiradentes passou a ser uma referência de luta pela libertação do Brasil da monarquia, e principalmente, da criação da República, já que a Inconfidência escolhera a República como forma de governo, caso se libertasse de Portugal. Outro fator importante é que Tiradentes era um militar, dando ainda mais solidez a República, que era liderada pelos militares. E não podemos esquecer da imagem quase santa em que Tiradentes se assemelha com Jesus Cristo, imagem essa veiculada em vários livros didáticos.
Seria Tiradentes ou Jesus Cristo? Pra mim não parece nenhum dos dois.
Desde então, o dia 21 de abril passou a ser feriado nacional e Tiradentes passou a ser considerado Herói Nacional, e seu nome figura no Panteão da Pátria e da Liberdade Tancredo Neves. E falando em Tancredo, aí ressalto mais um momento da história brasileira que podemos duvidar. Tancredo Neves foi eleito presidente do Brasil por voto indireto, mas seria o primeiro presidente civil após o Golpe Militar. Mas como muito bem lembrou Getúlio Vargas: “No Brasil não basta vencer a eleição, é preciso ganhar a posse.”, Tancredo não assumiu pois adoeceu na véspera da posse e morreu 39 dias depois. A sua doença e sua morte trouxe muitas dúvidas, e não adianta levantarmos agora, mas o que ganha muita força durante os anos é o fato de Tancredo ter sido mantido por aparelhos e drogas até o dia 21 e abril. Existe a indicação de que o “quase presidente”, teria sido considerado clinicamente morto no dia 12 de abril. No dia 21 de abril às 22:23 o então Secretário de Imprensa da Presidência da República, o jornalista Antônio Brito, leu a nota de falecimento ao vivo pelo programa “Fantástico” da TV Globo. Mas porque fazer isso? Simples, criar mais um mártir, agora, o da nova República. Então a imagem de Tiradentes retorna, mineiro como Tancredo, e com um ideal republicano, assim como Tancredo simbolizava. O próprio Tancredo em um discurso se confunde com Tiradentes: “Não vamos nos dispersar. Continuemos reunidos, como nas praças públicas, com a mesma emoção, a mesma dignidade e a mesma decisão. Se todos quisermos, dizia-nos, há quase duzentos anos, Tiradentes, aquele herói enlouquecido de esperança, podemos fazer deste país uma grande nação. Vamos fazê-la!”. A morte de Tancredo não foi mentira, mas tudo que girou em torno dela com certeza foi manipulada. A República estaria portanto mais uma vez se consolidando, desta vez no seu processo de reconstrução, que assim como na sua “proclamação”, sem a participação popular, e portanto nada melhor do que um mártir para dar o povo o que pensar.

Tancredo Neves, o quase presidente, não assumiu, mas será que morreu realmente no dia 21 de abril?
Diante do quadro da importância do dia 21 de abril, não existia como a fundação de Brasília ser marcada em outra data. Brasília naquele momento, 1960, era o símbolo máximo da República, de um país que crescia 50 anos em 5, de acordo com o Plano de Metas de JK. O mesmo dia da data tradicional da Fundação de Roma, mas não há precisão disso. Em 1971 outra mentira entra no ar na mesma data. A primeira edição do Jornal Hoje, que em 1971 tem sua primeira edição.
O dia 21 de abril na verdade não é cercado de mistérios, ele é cercado de sentidos. As mentiras contadas, e nem sempre provadas, apenas dão uma idéia de como esse país, chamado Brasil, é construído. Um país feito de mentiras e manipulado para que o povo sempre esteja a margem da história e servindo aos interesses daqueles que lucram com mentiras, se mantendo no poder.
Realmente são muitos fatos para apenas uma data. E até a única que comemoro, como citei logo no início, o aniversário do meu pai, também pode não ser verdade, já que existe indícios dele não ter nascido em 1960, e que poderia ter sido registrado com essa data para que meus avós não pagassem multa, talvez nem 21 de abril realmente seja o dia do nascimento. Sobre este caso, não há mais provas que elucidem este dilema, apenas o fato do meu pai lembrar com muita clareza de fatos que ocorreram antes de 1960. São por essas e outras que tenho medo do dia 21 de abril, mas porém, só no Brasil o dia seguinte tem uma mentira ainda pior.

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