sábado, 4 de fevereiro de 2012

O funeral de um cachorro.

Após sair do programa de rádio que faço na Social FM, não imaginava que a parte da tarde do meu dia ainda me reservaria muita coisa. Um misto de sentimentos que me surpreenderia. Ao chegar na esquina da Rua Presidente Tancredo Neves,  com a Rua Bela Vista, no Loteamento Aiuruoca me deparei com um cachorro morto na calçada. Faltava muito pouco para chegar em casa, poderia simplesmente fingir não ter visto nada e ir embora para casa. Acompanhado de Elison Ribeiro e da minha filha Beatriz, continuei olhando fixamente para o cachorro e tive o primeiro sentimento de muitos que ainda povoariam a minha tarde, o sentimento de que deveria fazer algo. Prontamente, ligando para Iara, peguei o telefone do SAAE de Barra Mansa, para que eu pudesse pedir o recolhimento do animal. Ligando para este mesmo lugar, fui até bem atendido, e uma moça com uma voz até receptiva me informou que o setor que faz esse tipo de recolhimento, animais, não estava mais lá, e que eles trabalham no sábado até as 13 horas, e já eram 14:30. Estranhando a informação, mais ainda acometido com a vontade de ter o meu problema resolvido, perguntei qual o horário que começam a trabalhar no domingo, e fui instantaneamente respondido que apenas na segunda feira. Fui então tomado por dois sentimentos básicos, a indignação e o abandono. A indignação veio pelo fato de que é um absurdo um setor importante de uma prefeitura que almeja ser grande fechar as 13 horas. Depois deste horário nada mais acontece na cidade? O abandono me veio a mente, pelo fato de entender que essa ordem tem o aval daqueles que deveriam zelar pelo povo, e eu simplesmente agora tinha um problema nas mãos que o governo se negava ajudar. Na verdade ainda não entendi o porque do meu espanto, o fato do governo não querer me ajudar não é novidade, não sou um empresário rico em processo de falência, não tenho sobrenome arraigado, e nem sou um político incompetente. A esses eles ajudam.
Estava decidido a fazer algo, mas sabia que não poderia levar o corpo do cachorro para o meu apartamento, não tinha como enterrá-lo naquele momento, e nem como levá-lo a qualquer lugar. Decidi então esperar. Estava sozinho com a Bia, e não poderia fazer nada. Liguei para algumas pessoas, inclusive muitas delas, ligadas ao governo municipal, e as respostas foram variadas. Alguns me disseram que eu estava fazendo uma tempestade em um copo d’água. Outro me disse que absurdo era eu querer que os funcionários da VEGA trabalhassem até mais tarde por causa de um cachorro. Um outro teve a audácia de dizer que o prefeito não pode se preocupar com essas questões. Me lembrei na hora de um episódio em que a Iara  passou dias com sua cachorra morta na sua varanda esperando ser recolhida. Após a minha esposa chegar em casa, e eu ter com quem deixar a Bia, decidi resolver este problema. O sentimento do momento era emoção, e simplesmente porque não adiantava eu ficar esperando ninguém fazer algo. Olhando para os animais pelo qual sou responsável, um gato e uma cachorra, me senti na obrigação de mudar este quadro, e enterrar aquele animal, como se fosse um dos meus. Barra Mansa, com seu governo “preocupado” não se interessa pelos animais. É público e notário o caso do cachorro queimado em Volta Redonda por um guarda municipal de Barra Mansa, assim como a falta de ação da prefeitura diante do caso. É também merecedor de atenção o fato de um Projeto de Lei, algo raro na câmara de vereadores de Barra Mansa, de autoria de Marcelo Cabeleireiro que pedia castração de animais como atribuição do serviço público de saúde da cidade, vistas pedido por um vereador, que dizia que um outro Projeto de Lei parecido já existia na casa. O pedido de vistas foi feito para encontrarem o tal referido Projeto, porém mais de dois meses se passaram e nada foi achado. Nada acontece em Barra Mansa com relação ao direitos dos animais, nem tão pouco temos em nosso município uma entidade combativa, e ainda paira sobre ela sinistras suspeitas. E por falar em suspeitas, como posso classificar o contrato da Prefeitura Municipal com a empresa que recolhe animais de grande porte pela cidade.
Enfim, munido de um carrinho de mão, e de uma enxada, peguei o cachorro da calçada, e sendo observado por onde eu passasse, levei o cão até o local de seu enterro. Talvez ali naquele momento comecei a entender o porque da falta de políticas públicas para os direitos dos animais. No momento em que eu cavava sua cova rasa, sua cova medida, percebi no meio do nada, o que tudo significava. O cachorro, não tinha uma família grande em seu funeral. Não tinha muitos amigos acompanhando o cortejo, portanto, não era um evento propício para um palanque político. Não havia motivo, nem espaço para ser disputado, em favor de ser lembrado segurando a alça do seu caixão. Entendi que os animais para os nossos políticos não significam votos, com isso não os ajudam a manter suas vidas miseráveis sem sentido em favor do poder, em detrimento do bem estar do povo. O último sentimento que tive, ainda voltando para casa, foi um misto de raiva, ódio e esperança. Sentimentos antagônicos, mas que me motivam a continuar lutando pela mudança. O caminho de volta foi mais leve, mas pesado na lembrança, principalmente com relação ao momento em que eu colocava seu corpo em sua cova, e antes de colocar a terra por cima, mesmo sem jamais tê-lo visto, e nem era seu responsável (me recuso a dizer dono, pois ninguém é dono de ninguém), disse com os olhos fixos: “É uma cova grande para teu pouco defunto, mas estarás mais ancho que estavas no mundo.”

14 comentários:

  1. No Rio tem muito animal abandonado, sim. Principalmente levando-se em conta o nº de habitantes; bem maior do que em Barra Mansa.Porém, há um movimento em favor dos direitos dos animais extraordinário, que inclui a castração gratuita em vários postos montados pelo governo municipal.
    Um exemplo que deveria ser seguido por outras prefeituras. Inclusive pela de Barra Mansa.

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    1. Concordo Janaina. Eu conheço bem o projeto do Rio e estou me mobilizando para correr atrás disso aqui, assim como para a aprovação da lei de castração gratuita. Sou uma protetora de animais apenas, mas juntando nossas forças poderemos conseguir alguma coisa.

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  2. Vemos muito isso, mas o q podemos fazer???
    Eu nem sabia tinha esse tipo de serviço....
    parabns, poucos fariam isso!

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  3. Quando for vereador faz um projeto de lei para castrar o vicentinho, pois vai ficar igual a cachorro viciado pelas ruas após perder sua eleição.

    Suelem de Vista Alegre

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  4. Parabens pela sua atitude....o mundo seria muito melhor se existissem mais pessoas como vc!! Mais uma vez......PARABENS pela sua linda atitude de amor e respeito aos animais!!! marli...curitiba

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  5. Samuel,
    lendo o seu texto, me lembrei dos diversos animais que já enterrei. Alguns meus, outros de rua... Felizmente tive a "sorte" de morar em casa, com terreno e poder propiciar a todos um enterro decente, regado a muitas lágrimas e sempre acompanhado de uma oração.
    Compartilho da sua revolta e tenho tentado me dedicar cada dia mais a causa dos animais. A lei da castração gratuita apresentada pelo vereador Marcelo Cabeleireiro é um exemplo disso. Reuni diversas informações e com elas pude ajudar ao digníssimo vereador a elaborar a lei. Agora estou na batalha para conseguir conversar com os outros vereadores pessoalmente, mas com o "recesso nacional" do carnaval, acho que somente no início de março é que conseguirei. Decidi não esperar mais ninguém para poder fazer a minha parte e espero que possa contar com o seu apoio para arregimentarmos pessoas para cobrarmos do poder público o que é sua obrigação. Em tempo: não sou política, sou somente uma cidadã que ama animais e não aguenta mais tanto descaso.
    Precisamos de juntar um grupo de pessoas que possa comparecer às sessões da Câmara, visitar os vereadores, agendar horário com o Prefeito e o secretário de saúde e cobrarmos deles o que a lei determina que seja feito. Alguém se habilita?

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    1. Olá Mônica. Obrigado pelo seu comentário. Concordo com vc sobre a necessidade de comparecer as sessões. Eu me habilito.

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  6. Eloise Biolchini Ristom13 de fevereiro de 2012 às 18:31

    Oi! Entendo perfeitamente sua matéria, e tenho procurado em meu programa na Rádio Sul Fluminense AM, falar, debater, reclamar, aclamar etc...pelos animais, gostaria de conhecer melhor suas opiniões, e debater sobre o assunto, inclusive na Rádio se puder...correto vc esta, não podemos nos calar...Parabens pela matéria!!!

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    1. Obrigado Eloise. Aceito sim o debate. Tenho certeza que é disso que precisamos. É muito bom contar com pessoas que também se preocupam. Como faço para entrar em contato com vc?

      Um grande abraço !!!!

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  7. Entendo perfeitamente sua frustração, quando morava em BM, também tinha um grande quintal, onde estão enterrados não só animais nossos, como outros que vieram a falecer próximos a nossa casa! nós também não podíamos ficar sem fazer nada! me lembro de uma ocasião, em que eu e minha mãe, enterramos um cachorrinho que morrera em frente a nossa casa, e como lá mesmo havia terra, eu e e minha mãe o enterramos, o curioso,foi que o enterramos sob o olhar curioso e debochado dos outros,como se aquilo fosse uma coisa idiota! Sempre adotei, recolhi, socorri arrumei donos e lutei pelos animais, e ainda continuo lutando...Para mim seres humanos que não respeitam os animais,ainda tem muito que evoluir!parabéns pela atitude! compartilho de sua indignação!
    abraço

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    1. Obrigado Suzi. Isso tem que acabar. Esse descaso não pode continuar.

      Um grande abraço !!!!

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  8. Pensem comigo, por favor...
    O mandato político é caracterizado na sociedade moderna pela rotatividade, ou seja, a cada quatro anos podemos nós, cidadãos, retiramos do poder, políticos que se distanciam de "projetos políticos" que tenham como base o bem estar da sociedade.
    O aumento da população animal nas ruas de Barra Mansa, Volta Redonda, Quatis, etc, sinaliza para homens esclarecidos como eu, que a política é uma troca de favores e votos.
    Bem, vamos lá...
    Se é uma troca de favores e votos, por que não criar uma comissão de homens e mulheres esclarecidos e marcar audiências com órgãos e agentes políticos(Prefeito, vereadores, secretários, etc)?
    Homens e mulheres esclarecidos tem poder de persuasão, tem carisma, tem força e determinação. Vocês não acham que os agentes políticos não temeriam encontrar pela frente uma comissão dessa?
    PROPONHO A FORMAÇÃO DE UMA COMISSÃO, que tenha representatividade junto a todos os seres humanos que queiram uma sociedade mais humanizada e menos bestial!
    Se uma COMISSÃO for montada e, o mais importante, sem vínculo partidário (por que afinal quem exercerá a atividade política é a própria comissão), creio que os animais de rua terão uma remota, porém, real chance de suas vidas melhorarem.
    Aguardo contato...

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