Na semana passada estive com esta carta por duas vezes. Além de ser real, expressa o que também sinto e penso. Primeiramente a professora Janice Silva tinha me levado o conhecimento deste maravilhoso texto, um dia depois, meu grande amigo Elison Ribeiro me mandou um e-mail, onde esta carta lá estava. Então a pedido dos dois e com a intenção de que todos tomem conhecimento de um texto tão direto, vou publicá-lo aqui. O professor Márcio Fazenda faz uma ótima leitura do movimento de greve da rede estadual, e chama a atenção para uma reformulação em todo sistema. Chama a atenção também para a necessidade de nos representarmos e estarmos juntos. Um belo texto que merece toda nossa atenção e união. Professores, é hora de acordar. Vamos ao texto em sua íntegra
Será melhor aceitar o que parece agradar a maioria?
Companheiro educador:
A sua voz precisa compor o coro daqueles que se mantiveram firmes o quanto puderam durante o período de greve. Como num canto orfeônico, se não temos TODOS a mesma força, seja porque não suportamos paralisações, seja porque tememos retaliações, a melodia final é bela e percebida até por quem não tem sensibilidade.
Um movimento forte daqueles considerados 2% de trabalhadores aguerridos marcou posição. É preciso honrá--lo. Profissionais sérios e conscientes se reuniam em assembléias e iam para as frentes de luta, acampando na Rua da Ajuda, entoando “...Somos todos herdeiros de Paris”, enfrentando ameaças, sol, chuva, frio, avançando o recesso escolar, com tenacidade, com grandeza. Só tinham certeza do que queriam. Se conseguiriam, em número tão reduzido e sem o reconhecimento até dos estimados 98% da categoria, os quais parecem fechar os olhos para o seu entorno, acatando ordens absurdas, como lançamento de notas durante as madrugadas no site do governo, e não se incomodando com a ditadura que se desenha na educação, eles não sabiam. Código 61, corte de ponto, substituição por professores temporários, complicações para licença-prêmio ou aposentadoria, tudo isso era ônus do protesto. E eles, que não são de ferro, que são como eu ou VOCÊ, com contas a pagar e filhos para criar, assumiram. Carregam agora no peito uma glória que não pertence a todos nós: aquela ensinada a seus filhos pelo exemplo, não somente pela palavra que se esvai no vento, alicerçada na percepção e no comprometimento.
Mas os companheiros grevistas não são heróis, apesar de idealistas. Querem apenas ser cidadãos e participar das decisões políticas, para fazerem valer as lições de suas salas de aula. Não querem ser desrespeitados, manipulados, orientados no gasto do dinheiro que creditam no seu cartão. Eles querem que sua voz seja ouvida e que seus companheiros se envolvam com a sua causa. POR QUE, PROFESSOR, AFINAL, VOCÊ NÃO APOIA SEUS COMPANHEIROS? NÃO CONSIDERA JUSTA A CAUSA, QUE É SUA TAMBÉM? ACHA QUE O SEPE É FRACO, QUE NÃO O REPRESENTA? REPRESENTE-SE! NÃO PENSE QUE O GOVERNO DÁ O QUE VOCÊ NÃO CONQUISTA. PARTICIPE! O SINDICATO PODE SER FORTALECIDO COM A SUA PRESENÇA. FORTALEÇA-O! O SINDICATO SOMOS NÓS! Seria muito mais digno se este assunto fosse considerado nos encontros, nos intervalos, nos “cafezinhos”. Imbuídos desse pensamento, colegas professores não se disponibilizariam a cobrir os horários de quem lutava por eles também. ELES TODOS LUTARIAM. Imbuídos desse pensamento, a reposição das aulas do período de luta está acontecendo nas escolas, porque há compromisso. “Mesmo que a produção atrase, é preciso parar a máquina para que a voz do operário seja ouvida pelo patrão”, já afirmou um companheiro sindicalista. Sempre será assim no capitalismo. E SÃO TRANSTORNOS QUE PASSAM PARA QUE BENEFÍCIOS FIQUEM.
Na atual conjuntura, somente o NOVO é que parece importar. O VELHO, o qual por tanto tempo dedicou seu conhecimento e sua vida à educação, é visto como RANÇO. Daqui a dez anos, como seremos tratados? O ranking das escolas pode nos ser a favor ou contra. Podemos estar lotados numa escola bem classificada e termos de migrar para outra de classificação inferior. E aí? PRECISAMOS FORMAR UMA EQUIPE, NÃO LOCAL OU MUNICIPAL, MAS ESTADUAL. POIS ESTAMOS NESTA ESFERA. E O QUE ACONTECE NA CAPITAL, ACONTECE AQUI, JÁ QUE TEMOS OS MESMOS DEVERES E ESTAMOS SUJEITOS AO MESMO REGIMENTO. Então, vamos nos organizar melhor e ser mais críticos.
O boicote ao Saerjinho é importante para mostrarmos que o caminho para que a Educação do estado ganhe em qualidade não é este proposto pelo governo. Somos profissionais. Sabemos lecionar. Conhecemos nossa realidade e nos empenhamos para que nossos alunos tenham sucesso. Faríamos muito melhor, se tivéssemos autonomia para nossas ações, com número reduzido de alunos em sala. O governo é importante, sim, para pagar nossos salários e prover efetivamente as escolas de professores nas disciplinas carentes, como Química ou Matemática. Esta avaliação do governo pode ser feita de outro modo, bem menos agressivo, SEM TANTA IMPOSIÇÃO E SEM QUE PUNA AS ESCOLAS, como se elas não fossem comandadas por ele em todos esses anos, com entrada e saída de materiais e equipamentos, com abandono e retomada e abandono e retomada do que poderia elevar a qualidade da Educação em nosso estado.
Estejamos cada vez mais firmes, companheiros! A nossa luta será constante e a nossa responsabilidade é grande. O governo é que tem de tomar para si a parcela maior e criminosa do que considera falho em nosso sistema educacional.
Professor Marcio Fazenda
Valença, 21 de setembro de 2011
Me parece que educação está sendo considerada e desejada por todos igual a "paz", todo mundo quer e acha necessária e nem por isso vemos a sua realização. Por que será? Talvez por assim como na paz, na educação, na saúde, no esporte, na TV ou qualquer assunto que se possa imaginar existem os jogos de interesses, e muitas questões só são realmente debatidas e buscadas nas mesas dos bares e não nas mesmas dos plenários, exceto na época de eleição.
ResponderExcluirOu porque muitas vezes queremos algo que nos traga benefícios com tanto que não nos dê trabalho e nem nos traga qualquer complicação.
Com isso acho que devemos dizer: - "Acorda Povo", o amanhã é feito hoje, se continuarmos no nosso marasmo esperando as coisas acontecerem, corremos o grande risco não vermos quando acontecerem.