segunda-feira, 1 de abril de 2013

A LONGA NOITE DOS GENERAIS - PARTE 1: UM GOLPE NA ESPERANÇA DO POVO


No dia 1º de abril de 1964, o Brasil começa a viver uma página triste da sua história. O Golpe Militar foi nada mais, nada menos, do que um assassinato em massa. Morreram pessoas, a democracia e a esperança, enquanto militares enriqueciam, e a sociedade empobrecia. Os anos se passam, e os arquivos continuam fechados, e assassinos não são julgados. Somos um país de esquecimentos, mas quando esquecemos de que isso aconteceu, esquecemos de nós mesmos.

A Ditadura Militar foi marcada pela censura a imprensa, torturas e assassinatos.
No aniversário do dia mais triste da nossa história, eu fico pensando que somos o resultado de nossas ações, tanto individualmente, como coletivamente. Há exatos 49 anos, ainda de madrugada, se iniciou uma conspiração, para retirar o presidente eleito e instaurar um regime autoritário e assassino, onde a democracia e a sociedade foram massacradas pelos interesses financeiros, de militares, americanos e de uma sociedade burguesa servil, que até hoje toma conta de pontos importantíssimos do nosso país.

Presidente João Goulart discursando
 no Comício na Central do Brasil.
Para entender o golpe é necessário voltar bem mais do que um ano, mas neste momento, voltarei poucos dias do mesmo mês de 1964. No dia 13 de março de 64, no comício da Central do Brasil, 200 mil pessoas estiveram no local. No evento, João Goulart anuncia medidas sociais, que como sempre incomodam uma elite acomodada a ganhar a custa do povo. Entre seus anúncios estavam a nacionalização das refinarias de petróleo privadas, e a desapropriação de terras para a reforma agrária, situadas as margens das rodovias federais. Nenhuma dessas medidas eram prejudiciais ao povo, muito pelo contrário.

Estive no centro do Rio de Janeiro na semana passada, e passando pela Central do Brasil, lembrei-me de uma entrevista que tinha lido a alguns anos atrás, que ressaltava as declarações de pessoas que estiveram na Central do Brasil naquela época. Em uma das declarações um senhor falava sobre como as pessoas foram andando em direção a Central do Brasil, com a esperança no olhar. Enquanto o ônibus passava pelo em torno da Central, eu imaginava essas pessoas em direção ao comício, e imaginava ainda mais, a esperança no olhar destes personagens históricos. O olhar do pobre, que pela primeira vez ouvia algo, que pouco se sabia o significado, mas parecia ser promissor. Palavras como moradia e desenvolvimento de uma nação, podem e devem fazer parte da realidade de uma sociedade e não do seu imaginário.

Na Marcha da Família com Deus pela Liberdade
as faixas pediam democracia, mas a passeata liderada por
conservadores, foi de apoio a uma intervenção militar, que
ao acontecer, não trouxe democracia.
Logo indaguei o dia 19 de março de 1964, com a “Marcha da Família com Deus pela Liberdade”, realizada em São Paulo, como resposta ao comício no Rio de Janeiro. Fiquei imaginando como as cartas estavam na mesa, e as respostas imediatas. Os próximos dias seriam insuportáveis. A pressão vinha dos dois lados, e com certeza pesava contra Jango, uma certa inabilidade em alguns pontos, assim como ouvir demais as pessoas erradas. Os militares estavam se articulando, e assim se comportam. Em imediata resposta ao protesto da classe média, os marinheiros da Armada, liderados pelo Cabo Anselmo, organizados ao redor da Associação de Marinheiros e Fuzileiros Navais do Brasil, no dia 25 de março, alvoroçaram-se no Rio de Janeiro. Durante o chamado Motim da Semana Santa, os 1200 marujos rebeldes concentrados no Palácio do Aço, sede do sindicato dos metalúrgicos, receberam ainda a adesão de um destacamento de 26 fuzileiros navais que se dirigira para o local para prendê-los. João Goulart não demorou igualmente em anistiá-los. Dali em diante, pelo Presidente ter-se posicionado novamente a favor dos estamentos subalternos, ferindo assim os princípios da hierarquia militar, praticamente mais ninguém na alta chefia militar lhe deu sustentação.

No dia 30 de março, Jango comparece a uma confraternização no Automóvel Clube do Rio de janeiro, onde recebe as homenagens dos subtenentes e dos sargentos pela defesa que fizeram aos interesses deles. Neste mesmo encontro, o Cabo Anselmo, líder dos revoltosos, discursou. Foi a última aparição pública de João Goulart. Assistindo tudo pela TV em Juiz de Fora, o General Mourão Filho, que já tinha aceitado, desde o dia 28 ser o comandante das tropas insurgentes, deu ordem para seus regimentos seguirem com o planejado.

Na madrugada do dia 1º o plano já estava em curso em sua execução, em uma madrugada longa, que duraria até 1985. A intervenção militar foi saudada por muitos setores, como: proprietários rurais, empresários, governadores de alguns estados, alguns setores da Igreja Católica e pela classe média. Ou seja, saudada pela elite, que não via nas ações de Jango, o futuro da manutenção de suas riquezas.

Em detrimento do povo, o Golpe foi realizado, e com ele tudo de ruim que se poderia acontecer em um país. O Governo Militar matou, violentou, torturou e dizimou. Mentiu que vivíamos um espetáculo de crescimento, enquanto a dívida aumentava cada dia mais e paga sempre com a esperança do povo. As conseqüências deste golpe foram profundas, não só para a nossa história, mas também para o nosso povo. Existe hoje a deturpação do ativismo, a invenção de uma democracia, que na verdade é comandada pelo dinheiro, e não pela vontade do povo, e uma mídia circense, que vive de entreter para alienar. Somos pacíficos politicamente e sem educação, o que nos torna incapazes de transformarmos a nossa sociedade. Temos heranças malditas de muitas épocas, mas nos massacra lembrar das mortes que até hoje assombram a nossa história, e que absurdamente nos são negados o direito aos seus arquivos.

Para terminar, e continuarei a postar por vários dias sobre o Golpe Militar, ainda esta semana, se não dá para voltar no tempo, pelo menos que aprendamos algo com isso. Hoje não temos militares tentando o poder, mas temos outros usurpadores, que podem tomar o poder, com o nosso próprio voto. Precisamos votar melhor, e buscar mais educação.

A Ditadura Militar é um capítulo longo e triste da nossa história, que precisa ter seus arquivos abertos, e militares julgados. Não pode passar como algo que praticamente não aconteceu. Temos hoje representantes deste regime no poder de muitas coisas. Na presidência da CBF está José Maria Marin, que era deputado estadual pela ARENA, e que pode ser considerado um dos incentivadores do assassinato de Valdimir Herzog, história essa que será contada em uma postagem próxima.

Precisamos repensar nossa história. E pensando nisso, estarei esta semana até a sexta feira, falando sobre a Ditadura Militar em posts diários, com o objetivo da reflexão e análise deste momento triste esquecido por muitos.

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