terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Carta enviada ao Secretário de Educação de Barra Mansa contra o fim do EJA no Colégio Municipal Padre Anchieta em Vista Alegre

O EJA precisa ser ampliado e não desconstruído. Por isso mesmo a carta reproduzida abaixo tem sua importância.
Todo início de ano em Vista Alegre temos o medo de que o Colégio Municipal Padre Anchieta não tenha o turno noturno aberto, e a modalidade do EJA não exista através de um colégio municipal no nosso bairro. Isso aconteceu no ano passado, quando nos mobilizamos e através de um abaixo assinado conseguimos trazer um pouco de luz ao problema e sensibilizar as autoridades contra essa atrocidade. No ano passado inclusive tive a oportunidade de dar aula no turno da noite no Padre Anchieta.
Neste ano as coisas não foram diferentes. O ano nem começou direito e o medo estava lá novamente. A SME ainda sem respostas e a escola na espera, assim como sua clientela. No dia 14 de fevereiro decidi então entregar uma carta diretamente a Secretaria Municipal de Educação. E foi o que fiz. Entrando na prefeitura e me dirigindo ao 3º andar, fui até a sala do Secretario e entreguei a carta, que em duas vias, foi recibado e enviado para seu destino. A carta será reproduzido abaixo, com o objetivo de que todos se saibam do problemas que se encontra. Gosto de lembrar que no ano passado, mesmo com as aulas iniciadas ainda tínhamos a ameaça de fechamento. Então, não é nada demais, continuarmos em alerta. Vamos a carta.
Ao Secretário Municipal de Educação
Senhor Mauro de Paiva Luciano

Caro Secretário, é com muito prazer que venho através desta carta lhe passar informações necessárias sobre a minha comunidade que talvez o senhor não saiba. Moro em Vista Alegre, mais precisamente no Loteamento Aiuruoca. Tive a grande emoção de dar aula no Colégio Municipal Padre Anchieta, situado também em Vista Alegre, em duas oportunidades, em 2010 até julho, e depois a partir de outubro do mesmo ano até o final de 2011. Nestas duas oportunidades, tive a honra de dar aulas para o turno da noite no EJA (Escola de Jovens e Adultos), e entender a importância que este modalidade tem para sua comunidade. Pude acompanhar nestas vezes, a luta dessas pessoas de tentar terminar o Ensino Fundamental, e sonhar com algo maior para suas vidas através da educação e aprendizado. Não foram poucas vezes que vi em meus alunos o cansaço de um dia inteiro de trabalho, e o peso de uma casa. Mesmo assim não deixei de ver sobre muitos, a felicidade de encontrar em seus cadernos a resposta para suas indagações e o futuro em suas leituras. No final de 2011, pude estar em uma solenidade de formatura, onde também se encontrava o turno da noite. Neste mesmo dia, pude ver em meus alunos o brilho do orgulho, de apesar de tantas lutas, conseguirem terminar mais uma etapa de seus estudos, já para alguns um tanto atrasados.
Minha história se confunde ao EJA. Trabalhava em um município e estudava em outro, mas o colégio em que eu fazia o EJA, era em outro distrito, porque o colégio perto da minha casa, não tinha EJA. Essa situação fazia com que eu chegasse em casa quase as 23:30, para acordar novamente as 05:30, onde tudo começava outra vez. O olhar dos meus alunos na noite do final do ano de 2011, na de sua formatura, era o mesmo que eu tinha no final de 2005, quando terminei o Ensino Médio, pelo EJA. Em 2006 recebi a notícia que o ENEM que tinha feito no ano anterior, tinha me contemplado com uma bolsa de 50%, para o UBM, em Barra Mansa, me propiciando assim, a realização do meu sonho de fazer um curso universitário. Escolhi a educação por acreditar, que deveria dar em troca algo que a educação já me tinha dado, a possibilidade de sonhar. Terminei a faculdade de História em 2008, e de lá para cá, não parei mais.
A minha história não é nada perto da história de muitas pessoas que moram em Vista Alegre, e que vêem no Padre Anchieta a oportunidade de sonhar. Porém, é com muito pesar que mais uma vez, já que no ano passado este debate já tinha sido realizado, vejo a possibilidade de não recebermos em nossa comunidade o EJA em um Colégio Municipal. Nas minhas duas passagens pelo Colégio Municipal Padre Anchieta, tive a chance de trabalhar com pessoas brilhantes, como é o caso da ex-diretora Cida, e da atual auxiliar de direção Zaira. Pessoas que me ensinaram a arte de ensinar ao turno da noite, e o melhor de tudo, como amar um colégio tanto quanto a sua própria casa. É isso que sinto pelo Colégio Municipal Padre Anchieta, amor. E por este amor, não gostaria de ver este colégio fechar a noite. Seria um grande desgosto o Padre Anchieta não receber seu curso noturno, já que atende uma demanda espetacular. Enviar estas pessoas para Vila Nova, será o mesmo de sacrificar seus estudos, data vista a hora da saída desses alunos, e as problemáticas já comuns do transporte coletivo Barramansense. Outro fato inegável é a presença de pessoas com a idade avançada, e que enxergam na educação a possibilidade de crescimento. Como querer que essas pessoas estudem em outros bairros, mesmo diante de todos os problemas acarretados por essa decisão?
Entendo que a EDUCAÇÃO, é a única oportunidade de mudarmos nossas vidas. Dar educação é ampliar a nossa capacidade de assistência, e rever conceitos e valores. Educar é transformar, revolucionar e possibilitar. Nenhuma explicação pode ter pouso diante de tal apelo, que não faço por mim, mas pelas pessoas que moram no meu bairro, e que esperam da educação de Barra Mansa, um tratamento justo e coerente. É com este sentimento que também apelo pelo senso de coerência de todos, tanto a SME, quanto o Prefeito. Peço portanto que o EJA não acabe no Colégio Municipal Padre Anchieta, e que esta luta, ensinar, tenha seus novos capítulos, sempre com qualidade, sonhos e realizações.
Com muita estima e agradecimento, encerro esta carta, na espera de que comunguemos do mesmo sonho. Mudar o Brasil através da EDUCAÇÃO.

Samuel Marques dos Santos
Professor
Morado de Vista Alegre

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