quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Assassinaram a Educação - PARTE 1 - Por Hugo Tung Stalin da Silva

O Brasil vive mais um mistério televisivo. Depois de quem matou Odete Roitman , e quem é o assassino em a Próxima Vítima, entre tantos outros, vivemos agora, quem matou Salomão Hayala e quem matou Norma ? Percebendo que o meu pé balançava ouvindo música baiana, verifiquei que esse meu papo estranho está diminuindo meu cérebro e consequentemente isso pode ocasionar atitudes imbecis, como achar que Deus derrubou os prédios do Ano Bom. Mas foi em meio a essas indagações que, em uma manhã, recebi um telefonema. Nesse, via Embratel, uma voz cavernosa dizia que ,há poucos instantes, a EDUCAÇÃO tinha sido assassinada. De cara me senti meio tonto, entendi que poderia ser a falta de nutrientes básicos no corpo. Afinal, sou professor. Mas o que se passava é que fui pego de súbito em meio a um conflito social. E agora ? O que fazer ? Há anos atrás tinham assassinado o camarão e assim começou a tragédia no fundo do mar, mas a educação foi-se dessa para melhor. Fui então imbuído de um espírito jornalístico, mas isso poderia trazer piadas de duplo sentido e logo parei com isso. Revoltado fui em direção ao colégio onde a educação foi encontrada morta. As informações iniciais eram desencontradas e muito conflitantes. A situação era que a EDUCAÇÃO foi encontrada na quadra do colégio. 

Ao  chegar à referida unidade de ensino, muitos curiosos estavam no local, e com o meu crachá de indecente, quer dizer, docente, consegui adentrar no mesmo. Como um investigador americano em um filme indiano, aproximei-me da cena do crime, mas não pude deixar de observar as dependências do colégio no caminho até a quadra. As salas estavam desarrumadas e, no chão, cartas de UNO, nos quadros inscrições como “Por favor, salvem a Professorinha !” em letras garrafais na cor vermelha. Crianças, no caminho, ainda perplexas e felizes porque amanhã não teriam aula. Ao, enfim, chegar na quadra, deparei-me com a cena. Parecia que, naquele momento, a ficha caiu; a EDUCAÇÃO tinha morrido. Estirada no chão e com as mão ainda agarradas em 123 diários de classe, a vítima ainda parecia brilhante, mas sem vida. Aproximei-me do delegado que, ao proferir 28 erros em 15 palavras, me deixou perceber que não poderia confiar nele e teria que fazer minhas próprias investigações.
Comecei, portanto, encaminhando-me até a sala dos professores, onde decidi interrogar quem estivesse lá. O caminho até lá foi árduo, passei por várias fases como um jogo de vídeogame infernal. Tive que passar por pais batendo em orientadores, orientadores batendo em pais e orientadores batendo em orientadores. Em uma nova fase, cheguei a um corredor onde os gritos eram insuportáveis e a minha missão era achar a porta de saída em meio ao  caos. Quando já achava que morreria por lá, consegui chegar à sala dos professores. Uma sala sem ar condicionado e com pelo menos 15 pessoas aglomeradas em volta de uma mesa. Todos tomando um café e, apesar de risos, não havia muita esperança. No quadro de avisos, muitas informações já ultrapassadas, como uma palestra de Vygotsky, ministrada por ele próprio no SESC. Em outro quadro várias frases motivacionais, de autoria de Piaget, Paulo Freire e Capitão Nascimento. Logo me identifiquei, e comecei a fazer perguntas. No início não me deram muita atenção, mas, com o tempo, foram falando. Contaram-me que nos últimos anos a educação estava um pouco estranha, falando pelos cantos e muito desconfiada de todos. Um outro professor confidenciou, sem se identificar e fazendo questão de colocar uma voz de pato, que na verdade a EDUCAÇÃO estava com o rendimento baixo e isso era inaceitável para o patrão, o Sistema. Outro disse que o ocorrido poderia ser um acidente,já que a EDUCAÇÃO andava meio distraída querendo mudar tudo. Um professor disse que EDUCAÇÃO estava tendo um caso com um tal de Senso Crítico, e que era sempre assediada pelo Sistema. Não fiquei muito tempo lá, até porque tenho medo que eles ( os professores) poderiam começar a me pedir dinheiro emprestado. 
Quando estava indo embora chegou a Direção. Com um olhar estranho e profundo, começou a me analisar de cima abaixo com seu globo ocular sedento por notas azuis. Fiquei de início trêmulo e engolindo o que restava de um café sem açúcar na minha xícara, mas me enchi de coragem para interpelá-la acerca de algumas dúvidas. Meio a contragosto fui conduzido a sua sala, onde, ao sentar, comecei a perguntar sobre o ocorrido. A direção apenas me disse que não saberia dizer quem foi e que, se no dia seguinte não houvesse aula  teriam que repor no sábado. Aproveitou para me perguntar se eu era professor, pois haviam algumas aulas à disposição no colégio, já que só nos instantes que ali eu me encontrava, 7 minutos, 7 professores pediram exoneração. Respondi que não estava lecionando, e que o meu sonho agora  era ser Ministro do Turismo. Quase indo embora, ela com sua voz estridente e medonha me disse um nome: Sindicato. Muito rapidamente virei de volta para a sala e fiz cara de interessado, e comecei a ouvir que o Sindicato poderia ser um suspeito, já que estava em constante briga com o Sistema pelo poder que poderia exercer com a EDUCAÇÃO. Ao dizer que não estava entendendo, e por qual motivo o Sindicato mataria a EDUACAÇÃO, já que sua briga era contra o Sistema, a direção começou a gritar, subterfúgio muito comum para quem não tem fundamento em suas indagações. Só de sacanagem perguntei quando seria a eleição para diretor e fui expulso de sua sala.
Estando quase fora do colégio vi o legista e perguntei se já tinha alguma idéia sobre a causa da morte, e ele me respondeu que apesar das análises premilinares, a conclusão era um possível mal súbito causado por envenenamento, uma substância chamada descasospolitcusacomodacions. Agora, como em uma novela mexicana, o meu olhar se fixou no nada, e comecei a pensar o que significava tudo isso. Neste momento já temos tudo o que precisamos para começar uma investigação a fundo, temos a causa da morte, suspeitos dos mais variados, o que falta é um motivo. Pensei em ligar para o CSI, mas aí não teria graça. Meu próximo passo é pensar. Quem matou a EDUCAÇÃO ? Os professores ? A direção ? O sistema ? O sindicato ? O baixo rendimento ? Tenho que, neste momento, juntar as peças e entender por que alguém mataria a educação. O que ganhariam com isso ? Qual motivo ? QUEM MATOU A EDUCAÇÃO ?


Na quarta feira da semana que vem, mais um capítulo de ASSASSINARAM A EDUCAÇÃO.


*Hugo Tung Stalin da Silva é um repórter que iniciou sua carreira como correspondente do jornal Constantinopla. Hoje morando novamente no Brasil, Hugo neste momento é um freelancer e o seu sonho é ir morar em Brogodó, que apesar de ser mais bizarro que o Brasil, o juros são menores.


Um comentário:

  1. Professora Desesperada20 de agosto de 2011 às 09:54

    Muito boa essa novela. Estou ansiosa pelo próximo capítulo.

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